ANALYSIS – Setembro 2024

RESUMO

No Brasil, quadro fiscal continua a preocupar e fazer preço nos mercados, apesar da atividade surpreender positivamente. No exterior, incertezas quanto à resiliência da economia dos Estados Unidos continuam em destaque.

NO BRASIL

Agosto iniciou mais positivo para o cenário doméstico, refletindo em um fechamento na curva de juros e uma queda do dólar na primeira quinzena do mês. Além disso, o fluxo de capital estrangeiro para a B3 foi positivo em R$ 10 bilhões, representando o maior saldo mensal do ano. O aumento da expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos foi um fator relevante para este movimento.

No início de setembro foi divulgado o PIB do segundo trimestre, que indicou um avanço de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior, valor superior aos 0,9% esperados. A alta refletiu o crescimento dos setores industrial (1,83%) e de serviços (1,01%), enquanto a agropecuária retraiu 2,33%. Já na ótica da demanda, observamos crescimento de 1,35% no consumo das famílias, 1,30% em gastos do governo, 2,08% em formação bruta de capital fixo (investimento das empresas) e 1,36% de exportações, enquanto as importações, que impactam negativamente o PIB, cresceram 7,64%.

O IPCA, por sua vez, recuou 0,02% em agosto, sendo a primeira deflação mensal registrada no ano. O resultado veio melhor do que as projeções que indicavam estabilidade (0,00%). A queda foi impulsionada pelos grupos Alimentação e bebidas e Habitação, que variaram -0,44% e -0,51%, respectivamente, e impactaram o índice geral em -0,17p.p. conjuntamente. O Boletim Focus do dia 16 de setembro projeta inflação em 4,35% para o fechamento do ano, dentro do intervalo da meta.

Apesar dos dados de atividades positivos, o quadro fiscal continua a preocupar e a pressionar a cotação dos ativos financeiros nacionais. No que se refere à arrecadação de julho, as Receitas Federais atingiram novo recorde, alcançando R$ 231 bilhões, representando uma alta de 9,55% acima da inflação. No ano, o acumulado é de R$ 1,5 trilhão, uma alta real de 9,15%. Entre os impulsionadores desse crescimento, estão a tributação dos fundos exclusivos e a retomada da tributação dos combustíveis.

O Relatório de Acompanhamento Fiscal da Instituição Fiscal Independente destacou que não há segurança quanto ao cumprimento da meta, sendo necessário um esforço não apenas do lado das receitas, mas também das despesas.

As Estatísticas Fiscais divulgadas pelo Banco Central indicaram que o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 21,3 bilhões em julho, valor acima do esperado. No acumulado do ano, o déficit primário foi de R$ 64,8 bilhões, o equivalente a 0,98% do PIB.

No final do mês o Governo encaminhou ao Senado a indicação de Gabriel Galípolo, para a presidência do Banco Central, conforme esperado por grande parte do mercado. Entre os nomes que estavam sendo considerados, o de Galípolo era o “mais bem aceito” pelo mercado. Galípolo, que é atualmente diretor de política monetária do Bacen, precisará ser sabatinado e aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal antes de assumir o cargo.

NO MUNDO

Nos Estados Unidos, os dados mais recentes vieram mais positivos, com destaque para a leitura anual do índice de inflação e seu núcleo (medido pelo PCE) ficando em estabilidade ante ao mês anterior, e a segunda leitura preliminar do PIB do segundo trimestre sendo revisada para cima, puxada pelo aumento dos gastos dos consumidores. De forma mais ampla, a atividade econômica do país segue sendo impulsionada pelo setor de serviços, enquanto o setor industrial permanece em contração, apesar de demonstrar leve melhora em comparação ao mês de julho. Ainda que a inflação esteja caminhando rumo à meta de 2%, nos últimos meses o mercado de trabalho do país tem gerado preocupação e demandado mais atenção do Federal Reserve (Fed) na condução da política monetária, conforme destacado na ata da última reunião do FOMC, o Comitê de Política Monetária do Fed.

O relatório de emprego (payroll) de agosto registrou geração líquida de 142 mil empregos formais, abaixo das expectativas de 165 mil. Por outro lado, a taxa de desemprego caiu marginalmente para 4,2%, resultado em linha com o esperado. O relatório de agosto indica que, apesar de brando, o mercado de trabalho está se reequilibrando, sobretudo em comparação com o relatório do mês de julho, o qual indicou um possível desaquecimento mais intenso. No que se refere à política monetária, a ata da reunião de julho apontou que os cortes de juros poderão ocorrer no próximo encontro. O posicionamento do Fed em sua publicação foi reforçado pelo discurso do seu presidente, Jerome Powell, que afirmou “ter chegado a hora” para os cortes de juros iniciarem. Sendo assim, o mercado se mostra dividido, mas sobre qual magnitude se dará o corte de juros na próxima reunião (18/09), em 0,25 p.p. ou 0,50 p.p..

A zona do euro permanece com sua atividade econômica fraca, tendo em vista a persistente desaceleração do setor industrial em grande parte dos países do bloco. Contudo, a taxa de desemprego surpreendeu positivamente ao cair para 6,4%, atingindo o mínimo histórico, e o núcleo da inflação arrefecer ligeiramente de 2,9% para 2,8%, apesar de ainda estar acima da meta de 2%. Em relação à política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas na reunião de julho, sem indicar os próximos movimentos. Todavia, o mercado estima que novos cortes possam ocorrer em setembro, haja vista a ata da reunião anterior mencionar a possibilidade de que este movimento ocorra, sobretudo em uma tentativa de reanimar a atividade econômica, considerando uma inflação mais controlada e as perspectivas para uma sincronia do ciclo de cortes de juros nas demais economias globais.

A China demonstrou novo fôlego ao apresentar expansão, mesmo que tímida, tanto no setor de serviços quanto no industrial. Este último, por sua vez, foi impulsionado pelo setor de tecnologia, que aumentou os lucros da indústria chinesa em 12,8% no acumulado do ano até julho. Com isso, gerou-se novas expectativas de melhora do ritmo de crescimento do país em meio aos números desanimadores de produção industrial, exportações, preços e empréstimos bancários, referentes ao início de agosto. No entanto, o mercado imobiliário segue sendo um dos fatores detratores do avanço da China, ao cair 10,2% de janeiro a julho deste ano, apesar das tentativas do governo chinês em impulsioná-lo. No que tange à política monetária, em agosto, a China manteve suas taxas de juros inalteradas, após realizar cortes na reunião de julho. Para os próximos encontros, o mercado espera que este movimento ocorra novamente, a fim de impulsionar a economia chinesa em direção à meta de crescimento de 5% para este ano.

CONCLUSÃO

Conforme citado, em agosto o cenário continuou a trazer incertezas, ora negativas, como a deterioração do quadro fiscal e a abertura da curva de juros, ora positivas, como a forte entrada de investidores estrangeiros na B3, contrariando a saída líquida acumulada no ano.

O saldo estrangeiro positivo impulsionou a rentabilidade do Ibovespa, que subiu 6,54% no mês, revertendo a performance negativa acumulada em 2024. O índice de BDR, por sua vez, que ainda figura como destaque positivo no ano, subiu 0,55% no mês, abaixo dos 2,28% do S&P 500. O desempenho do BDRX abaixo do S&P 500 no mês refletiu, entre outros fatores, a queda de algumas grandes empresas de tecnologia e do dólar frente ao real. Por fim, o CDI rentabilizou 0,87% no período.

Fonte: Comdinheiro.

Em relação à curva de juros, a abertura observada em vértices curtos reflete as projeções de alta para a Selic nas próximas reuniões do Copom. A abertura em vértices mais longos, por sua vez, sofre maior impacto dos resultados das contas públicas do governo, conforme exposto anteriormente.

   BRASIL  2024 2025 2026 
PIB (% de crescimento real) 2,461,852,00
IPCA (em %) 4,263,923,60
IGP-M (em %) 3,683,974,00
Taxa de Câmbio final (R$/US$) 5,335,305,28
Taxa Selic (final do ano – em %) 10,5010,009,50
Taxa de Juros Real (deflacionado IPCA – em %) 5,985,855,69

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