Relatório Trimestral de Inflação

O Relatório de Inflação do Banco Central do Brasil é elaborado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e publicado trimestralmente. Seu principal objetivo é oferecer uma análise detalhada da economia nacional, com ênfase nas perspectivas para a inflação e na condução da política monetária. Embora o foco seja o Brasil, o relatório também abrange o cenário internacional, analisando projeções para os principais indicadores econômicos, como Produto Interno Bruto (PIB), mercado de trabalho, crédito, contas externas e, sobretudo, inflação. O relatório é uma ferramenta importante para garantir a transparência da política monetária, permitindo que os agentes econômicos compreendam os fatores que influenciam as decisões sobre a taxa de juros e a condução da política monetária brasileira.

O Relatório de Inflação embasa a condução da política monetária do Banco Central, cujo objetivo principal é manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Ao divulgar as expectativas para a inflação, os riscos associados e as projeções econômicas, o Bacen proporciona maior transparência e previsibilidade, contribuindo para a ancoragem das expectativas dos agentes econômicos. Em resumo, o Relatório é uma ferramenta que promove a estabilidade macroeconômica do país, auxiliando no controle da inflação e influenciando decisões de consumo, investimento e planejamento.

Publicação mais recente – Setembro de 2024

O relatório publicado na última quinta-feira (26) apresenta um diagnóstico atual, com foco em temas debatidos diariamente e que influenciam o dinamismo da economia nacional e a condução da política monetária.

No tópico referente à conjuntura econômica, o Bacen destacou que o ambiente externo permanece desafiador, marcado pela resiliência da atividade econômica, especialmente nos Estados Unidos, apesar das perspectivas de desaceleração, enquanto o processo de desinflação global avança de forma gradual.

O PIB dos Estados Unidos cresceu 3,0% no segundo trimestre de 2024, impulsionado pelo consumo das famílias e pelo mercado de trabalho aquecido, mesmo com a expectativa de desaceleração em função da política monetária restritiva do Federal Reserve (Fed). A inflação anualizada ficou em 2,5% em agosto, enquanto o núcleo registrou 3,2%, refletindo a pressão nos salários. Recentemente, o Fed reduziu a taxa de juros em 0,50 p.p., para o intervalo entre 4,75% e 5,00%, mas manteve o compromisso de garantir a convergência da inflação para sua meta.

Na Zona do Euro, o PIB cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre, com contribuição positiva do setor externo e uma queda na formação bruta de capital fixo. A inflação desacelerou para 2,2% ao ano, mas o núcleo e os serviços permanecem com preços elevados. Refletindo a desaceleração econômica, o Banco Central Europeu (BCE) realizou dois cortes de 25 pontos-base na taxa de juros, que agora está em 3,5% a.a..

A China, por sua vez, continua enfrentando uma desaceleração, em grande parte devido à persistente crise imobiliária. O PIB cresceu 5,0% no segundo trimestre, após um crescimento de 5,3% no trimestre anterior. De acordo com dados do National Bureau of Statistics (NBS), a tendência é de desaceleração para o terceiro trimestre.

Em relação às economias emergentes, houve crescimento interanual do PIB no segundo trimestre, apesar de persistirem riscos relevantes, principalmente relacionados à flexibilização dos juros nos Estados Unidos, à economia chinesa e a fatores geopolíticos que podem impactar os preços das matérias-primas.

No Brasil, a atividade econômica continua com desempenho acima do esperado, com o PIB crescendo 1,4% no segundo trimestre de 2024, superando a expectativa do mercado, que era de 1,0%. Os destaques foram o consumo das famílias, com crescimento de 1,3%, os investimentos, que aumentaram 2,1%, e os gastos do governo, que subiram 1,3%. Apesar dos impactos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o efeito sobre a atividade nacional foi menor do que o previsto.

O mercado de trabalho segue aquecido, com a taxa de desocupação caindo para 6,9%, muito próxima do menor nível da série histórica. No trimestre, houve geração de empregos formais e redução da informalidade, enquanto os salários reais mantiveram uma trajetória de crescimento.

A inflação voltou a subir no acumulado de 12 meses, atingindo 4,24% em agosto, após ter registrado 3,93% em maio. Os núcleos de inflação também mostraram tendência de aceleração. As expectativas para 2024 e 2025 se deterioraram, enquanto a inflação de longo prazo permaneceu estável, acima da meta. Em resposta a esse cenário, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,25 p.p., para 10,75% ao ano, afirmando que essa decisão é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para próximo da meta ao longo do horizonte relevante.”

Sobre o quadro fiscal, o relatório destacou que o tema continua relevante para a análise da conjuntura econômica. Por um lado, o governo mantém a perspectiva de cumprir a meta de resultado primário em 2024 e 2025, mas, por outro, analistas projetam dificuldades no cumprimento da meta fiscal devido ao aumento das despesas. No acumulado do ano até julho, o Governo Central apresentou um crescimento real de 8,6% nas receitas e de 7,8% nas despesas.

No tópico referente às projeções de inflação, as estimativas do Bacen indicam uma trajetória de desaceleração no médio prazo, embora ainda acima da meta de 3%. Para 2024, a expectativa é de uma inflação de 4,3%, caindo para 3,7% em 2025 e 3,3% em 2026. Em comparação ao relatório anterior, houve uma elevação nas projeções de inflação, ampliando a distância em relação à meta. O aumento das projeções deve-se a uma atividade econômica mais forte que o esperado, à depreciação cambial e ao aumento das expectativas inflacionárias. Esses fatores superaram os efeitos da queda nos preços do petróleo e da elevação da taxa de juros real.

No balanço de riscos, o Copom destacou os principais “riscos para a inflação acima do cenário de referência”, que incluem: desancoragem das expectativas por período prolongado; resiliência da inflação de serviços, devido a um hiato do produto mais apertado; e o impacto de políticas econômicas internas e externas, como a depreciação cambial.

No que diz respeito à condução da política monetária, o relatório destaca que, diante do cenário de inflação persistente e da atividade econômica aquecida, o Copom adotou uma postura mais contracionista, com a expectativa de que os ajustes futuros na Selic sejam graduais e dependentes da evolução das condições econômicas. O Bacen ressalta que o controle da inflação está condicionado ao comportamento do mercado de trabalho, aos componentes da inflação mais sensíveis à atividade e às expectativas dos agentes econômicos. Além disso, a condução da política monetária visa atenuar as flutuações do nível de atividade e promover o pleno emprego, ao mesmo tempo em que mantém como objetivo principal a estabilidade de preços.

Em resumo, a publicação de setembro revelou um cenário de desafios globais, com uma economia doméstica resiliente, em que o Banco Central busca equilibrar o controle da inflação com a manutenção do crescimento econômico. Ao elevar a taxa Selic, o Copom reforçou seu compromisso com o cumprimento da meta, considerando os riscos associados à desancoragem das expectativas e às pressões internas e externas.

Em conclusão, o Relatório de Inflação desempenha um papel relevante na análise da conjuntura econômica nacional, sendo também uma ferramenta que auxilia na ancoragem das expectativas dos agentes econômicos, com o objetivo de preservar a estabilidade econômica do país.

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