RESUMO
A economia brasileira mostrou perda de fôlego no terceiro trimestre, com enfraquecimento da atividade, inflação em alta e Selic mantida em 15%. No exterior, os Estados Unidos apresentam sinais de desaceleração, com mercado de trabalho mais fraco e início do ciclo de cortes de juros. A zona do euro mantém ritmo moderado de crescimento e inflação próxima da meta, enquanto a China mostra leve recuperação da atividade e estabilidade na taxa de juros.
NO BRASIL
A economia brasileira apresentou sinais de retração da atividade no início do terceiro trimestre. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, caiu 0,5% em julho, terceiro recuo consecutivo, após variações negativas em junho (-0,2%) e maio (-0,1%). O resultado evidencia perda de fôlego da economia, com desaceleração disseminada entre agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%). O indicador acumula alta de 2,9% no ano e de 3,5% em 12 meses.
Outros indicadores reforçam esse quadro de enfraquecimento da atividade, como o PMI Composto, que recuou para 46,0 pontos em setembro, ante 48,8 no mês anterior, permanecendo em zona de contração. O setor de serviços caiu de 49,3 para 46,3 pontos, enquanto a indústria passou de 47,7 para 46,5 pontos, o menor nível desde 2023. A queda reflete a desaceleração da demanda doméstica e externa, a redução das encomendas e o alto custo do crédito, fatores que têm limitado o crescimento. Apesar disso, houve alívio nos custos de insumos, o que permitiu ajustes pontuais nos preços e sustentou certa melhora nas expectativas empresariais para os próximos meses.
No que se refere ao quadro fiscal, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 17,3 bilhões em agosto, inferior às projeções de mercado (déficit de R$ 21,0 bilhões). O resultado reflete déficit de R$ 15,9 bilhões no governo central, R$ 1,3 bilhão nos estados e municípios e R$ 6 milhões nas estatais federais. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) manteve-se em 77,5% do PIB, enquanto a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) subiu levemente para 64,2% do PIB, influenciada, entre outros fatores, pelos juros nominais apropriados.
Em contrapartida, o mercado de trabalho manteve desempenho favorável. A taxa de desocupação ficou em 5,6% no trimestre encerrado em agosto, repetindo a mínima histórica da série iniciada em 2012. O número de desocupados caiu para 6,1 milhões, enquanto a população ocupada atingiu 102,4 milhões de pessoas, novo recorde. O aumento do emprego formal foi destaque, totalizando 39,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada, alta de 3,3% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. A informalidade subiu marginalmente para 38%, enquanto o rendimento médio real chegou a R$ 3.488, mantendo-se estável em relação ao trimestre anterior.
A confiança do consumidor também mostrou melhora em setembro, com o índice do FGV IBRE subindo 1,3 ponto, para 87,5, o maior nível desde dezembro de 2024. O avanço foi sustentado pelo Índice de Expectativas, impulsionado pelas perspectivas menos pessimistas quanto à situação econômica futura e à situação financeira das famílias, sinalizando retomada gradual do otimismo.
No campo inflacionário, o IPCA avançou 0,48% em setembro, após recuo de 0,11% em agosto, acumulando alta de 5,17% em 12 meses. O resultado veio ligeiramente acima das projeções de mercado e foi influenciado pelo grupo Habitação (2,97%), em razão da alta de 10,31% na energia elétrica residencial, que exerceu o maior impacto individual no índice (0,41 p.p.). Em contrapartida, Alimentação e Bebidas (-0,26%) registrou a quarta queda consecutiva. Também contribuíram para a alta do indicador os grupos Vestuário (0,63%) e Despesas Pessoais (0,51%). Já Transportes apresentou estabilidade (0,01%), com altas nos combustíveis sendo compensadas pelas quedas nas passagens aéreas e no seguro de veículos.
Diante desse contexto, o Copom decidiu manter a Selic em 15,00% ao ano, reforçando o tom cauteloso e vigilante da política monetária. A ata da reunião destacou o ambiente externo incerto, a moderação da atividade doméstica e a persistência de núcleos de inflação acima da meta, ressaltando que a taxa básica deverá permanecer em nível contracionista enquanto for necessário.
Apesar do ambiente de incerteza, o fluxo de capitais permanece robusto. O Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 7,9 bilhões em agosto e US$ 69,0 bilhões em 12 meses (3,2% do PIB), próximo da projeção do Banco Central para o ano. O resultado evidencia a resiliência do investimento estrangeiro, sustentada por fatores como o diferencial elevado de juros e o contexto de incertezas globais.
NO MUNDO
A economia norte-americana apresentou ritmo de expansão no segundo trimestre de 2025, com o PIB crescendo 3,8% em termos anualizados, acima das projeções. O resultado foi sustentado pelo consumo das famílias e pela redução das importações, mas os indicadores de atividade apontam moderação no terceiro trimestre. O PMI de serviços recuou para 54,2 pontos e o industrial para 52,0, ambos ainda em território de expansão, indicando perda de tração, mas manutenção do crescimento.
Nesse contexto, o mês de setembro foi marcado pelo segundo corte da taxa básica de juros nos Estados Unidos, de 0,25 p.p., para o intervalo de 4,00% a 4,25% ao ano, dando sequência ao ciclo de flexibilização iniciado em julho. A decisão, que não foi unânime, sinalizou o início de um ciclo gradual de cortes, em meio à moderação do mercado de trabalho e à inflação ainda acima da meta de 2%. Em coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou a mudança no balanço de riscos, com maior preocupação em relação ao desemprego, justificando o ajuste.
O comportamento do mercado de trabalho reforçou esse diagnóstico. O relatório JOLTS mostrou que o número de desempregados já supera o de vagas disponíveis, evidenciando arrefecimento gradual das condições do mercado. Em agosto, o número de vagas abertas ficou em 7,2 milhões, levemente acima da leitura anterior, enquanto o relatório payroll apontou criação líquida de apenas 22 mil vagas fora do setor agrícola, bem abaixo das expectativas, confirmando a desaceleração do mercado de trabalho.
Entre os indicadores de atividade, o PMI de serviços recuou para 54,2 pontos em setembro, ante 54,5 em agosto, enquanto o PMI industrial caiu de 53,0 para 52,0 pontos, refletindo moderação no ritmo de expansão. A desaceleração foi influenciada pela queda de novos pedidos e pelo acúmulo de estoques, especialmente de bens acabados. Ainda assim, os índices permanecem acima da linha de 50 pontos, indicando expansão moderada da economia. O PMI Composto, de 53,9 pontos, abaixo dos 54,6 de agosto, confirma a perda de tração no terceiro trimestre, mas mantém o cenário de crescimento consistente.
Na zona do euro, os indicadores mostraram ritmo desigual de recuperação. A inflação acelerou levemente para 2,2%, ante 2,0% no mês anterior, enquanto a taxa de desemprego subiu de 6,2% para 6,3%. Os PMIs refletiram essa heterogeneidade: o setor de serviços avançou de 50,5 para 51,3 pontos, mantendo-se em expansão, enquanto o industrial recuou de 50,7 para 49,8 pontos, retornando à zona de contração. Diante desse cenário, o Banco Central Europeu manteve a taxa básica de juros em 2,0% ao ano, adotando postura cautelosa frente à fragilidade da recuperação e às incertezas do comércio internacional.
Na China, os indicadores de setembro apontaram leve recuperação da atividade, em meio à manutenção das políticas de estímulo. O PMI Composto avançou de 50,5 para 50,6 pontos, sugerindo estabilidade no ritmo de crescimento. O setor industrial subiu de 49,4 para 49,8 pontos, ainda em território contracionista, enquanto o setor de serviços recuou de 50,3 para 50,0 pontos, refletindo perda de fôlego na demanda interna. O Banco Popular da China manteve a taxa básica de juros em 3,0% a.a. pelo quinto mês consecutivo, aguardando os efeitos das medidas de estímulo já adotadas sobre a produção e o consumo.
No campo geopolítico, o mês de setembro foi marcado por avanços regionais e tensões globais. Destacou-se a assinatura do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a EFTA (Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça), no Rio de Janeiro, que prevê a redução gradual de tarifas e ampliação do acesso a mercados, fortalecendo a integração comercial do bloco sul-americano e sua posição em futuras negociações com a União Europeia. Em contrapartida, os Estados Unidos solicitaram ao G7 a imposição de tarifas sobre o petróleo russo vendido à China e à Índia, ampliando a pressão econômica sobre Moscou e elevando a tensão nas cadeias globais de energia. A medida integra a estratégia do governo Trump de aumentar o custo das exportações russas e conter a influência geopolítica de seus parceiros, reforçando o ambiente de fragmentação comercial e disputa entre as maiores economias do mundo.
INVESTIMENTOS

Fonte: Quantum Axis. Elaboração: NUMO
O mês de setembro apresentou desempenho amplamente positivo entre os principais índices de mercado, em meio ao aumento do apetite por risco e à expectativa de estabilidade monetária.
O Global BDRX (3,96%) e o S&P 500 (3,53%) foram os destaques do mês, acompanhando a valorização das bolsas globais diante da continuidade do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. No cenário doméstico, o Ibovespa também registrou forte alta de 3,40%, impulsionado pelos resultados positivos de empresas dos setores financeiro e de commodities, além da entrada líquida de capital estrangeiro.
Na renda fixa, os índices prefixados IRF-M 1+ (1,29%) e IRF-M (1,26%) foram beneficiados pelo fechamento da curva nos vértices intermediários e longos. Já entre os indexados à inflação, o IMA-B 5 (0,66%), o IMA-B (0,54%) e o IMA-B 5+ (0,44%), refletiram uma menor marcação a mercado dos papéis de duration mais longa.
Os ativos mais conservadores, como CDI (1,22%) e IRF-M 1 (1,20%), mantiveram trajetória consistente, reforçando sua atratividade em um ambiente de juros reais elevados e volatilidade moderada nos mercados globais.
CONCLUSÃO

Fonte: Comdinheiro. Elaboração: NUMO
Em setembro, a inflação e as expectativas permanecem desancoradas, o que limita o espaço para um alívio mais consistente nos prêmios de risco. Assim, a parte curta da curva permaneceu estável, ancorada pela expectativa de manutenção da Selic em patamar elevado, reforçando o caráter ainda restritivo da política monetária.
Por outro lado, nos vértices longos a curva apresentou fechamento em relação a agosto, especialmente entre os vencimentos a partir de 2031, indicando um movimento de leve reprecificação diante da percepção de melhora nas expectativas de juros a médio e longo prazo.
Dessa forma, apesar das incertezas inerentes ao quadro fiscal, especialmente com a aproximação das eleições presidenciais, o que tende a aumentar a volatilidade em vértices mais longos da curva, pode-se inferir que a manutenção da postura cautelosa do Banco Central quanto à condução da política monetária, que enfatizou na ata da última reunião que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, gerou efeitos positivos de confiança do mercado quanto à estabilidade econômica.
Dessa forma, apesar do desempenho relativamente positivo dos ativos no mês de setembro, o cenário econômico permanece permeado de incertezas, especialmente relacionadas às pressões inflacionárias e à fragilidade do quadro fiscal. Esse ambiente reforça a oportunidade de manter estratégias conservadoras, que se beneficiam do elevado nível de juros e reduzem a volatilidade da carteira.

Fonte: Focus (10/10/2025)
ELABORAÇÃO
Davi Nascimento
Eduarda Benício
REVISÃO
Felipe Mafuz
EDIÇÃO
Jefferson Privino
Agência Ideais
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