RESUMO
O PIB brasileiro cresceu 3,6% no quarto trimestre de 2024. Em fevereiro, a economia registrou aceleração na prévia da inflação e um leve aumento no desemprego. No cenário internacional, a economia dos Estados Unidos demonstrou sinais de desaceleração, com tensões comerciais e revisão para baixo do crescimento, enquanto a zona do euro teve expansão modesta e a China enfrenta desafios no setor imobiliário.
NO BRASIL
Em fevereiro, o cenário econômico brasileiro foi marcado por volatilidade no câmbio, aceleração da inflação e sinais mistos na atividade econômica. O dólar encerrou o mês cotado a R$ 5,89, registrando uma desvalorização de 1,37% do real, refletindo não só fatores domésticos, mas também revisões sobre a política monetária dos EUA e incertezas ligadas à política comercial do país. No Brasil, o fluxo cambial apresentou uma saída líquida de US$ 256 milhões em fevereiro, refletindo principalmente um déficit de US$ 5,163 bilhões no canal financeiro.
A inflação voltou a acelerar, com o IPCA-15 subindo 1,23% em fevereiro, a maior alta desde abril de 2022. O avanço mensal foi pressionado pelo aumento de 16,33% na energia elétrica residencial, reflexo do fim do bônus aplicado na conta de luz em janeiro. Além disso, o grupo Educação teve reajustes nas mensalidades escolares, enquanto a Alimentação continuou pressionada por altas nos preços de produtos como café e hortaliças.
O resultado oficial referente ao PIB do Brasil em 2024 foi divulgado no último dia 07 e indicou crescimento econômico de 3,6% no quarto trimestre, acumulando alta de 3,4% no ano. No ano, o avanço foi impulsionado por serviços (+3,7%) e indústria (+3,3%), enquanto a agropecuária caiu 3,2%. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias avançou 4,8% e os investimentos cresceram 7,3%, refletindo maior confiança empresarial. O comércio exterior teve um crescimento de 5,4% nas exportações, com destaque para petróleo, soja e minério de ferro, enquanto as importações subiram 4,5%, impulsionadas por fertilizantes, medicamentos e bens de capital.
Dados mais recentes apresentaram sinais mistos. Em fevereiro, o PMI de Serviços subiu para 50,6 pontos, retornando à zona de expansão, enquanto o PMI Industrial avançou para 53,0, indicando uma recuperação do setor, puxada pela alta nos novos pedidos domésticos. O mercado de trabalho, por sua vez, mostrou leve alta na taxa de desemprego, que subiu para 6,5%, mas segue abaixo dos 7,6% registrados há um ano, refletindo um nível historicamente baixo para o período. Apesar disso, a maior parte das novas vagas continua sendo gerada no setor informal.
No que se refere ao comércio exterior, a balança comercial registrou um déficit de US$ 324 milhões em fevereiro, o primeiro saldo negativo desde janeiro de 2022. O resultado refletiu um forte aumento das importações (+27,6%) e uma leve queda das exportações (-1,8%), mas também foi impactado por fatores pontuais, como a importação de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 2,7 bilhões. O comércio com a China foi um dos principais fatores para esse desempenho, registrando um déficit de US$ 2,63 bilhões, com queda de 21,1% nas exportações e alta de 76,8% nas importações.
NO MUNDO
O mês de fevereiro também foi desafiador para a economia dos Estados Unidos. Ao longo do mês, o governo Trump intensificou seu discurso protecionista, anunciando revisões tarifárias contra China, México e Canadá. A rápida resposta dos países ao implementar tarifas recíprocas intensificou as tensões comerciais entre as nações, elevando a volatilidade nos mercados. Aliado a isto, o governo dos EUA segue implementando políticas migratórias mais rígidas, as quais podem trazer efeitos deletérios a conjuntura macroeconômica do país. A Ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) mencionou as medidas adotadas pelo governo como fator relevante para a alta da inflação.
A inflação medida pelo PCE e seu núcleo fecharam o mês de fevereiro com taxa anualizada de 2,5% e 2,6%, respectivamente, desacelerando levemente ante o mês anterior, contudo, permanecendo em patamar elevado. Neste cenário, o mercado segue com a projeção de que o Fed manterá os juros inalterados na tentativa de convergir a inflação à meta de 2%.
No que tange o mercado de trabalho do país continua a apresentar sinais de desaceleração. A taxa de desemprego subiu de 4,0% em janeiro para 4,1% em fevereiro, com a criação de 151 mil novos empregos, valor abaixo do esperado. No que se refere à atividade econômica, a segunda leitura do PIB do quarto trimestre de 2024 apresentou uma taxa anualizada de 2,3%, em linha com as expectativas e abaixo da alta de 3,1% registrada no trimestre anterior. Segundo os dados, o país cresceu 2,8% em 2024, ante avanço de 2,9% em 2023.
Na zona do euro, a leitura final do PIB do quarto trimestre demonstrou crescimento anualizado de 1,2%, acima da projeção de 0,9%. No ano, o crescimento foi de 0,7%, refletindo uma estagnação da economia. A inflação do bloco fechou o mês de janeiro com uma taxa anualizada de 2,5% e, segundo a leitura preliminar, desacelerou para 2,4% em fevereiro. No que se refere ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego se manteve estável em 6,2%, conforme o esperado.
A indústria da zona do euro avançou ligeiramente acima das previsões, conforme dados do PMI. Já o setor de serviços apresentou queda maior do que a esperada no mês de fevereiro. Apesar da melhora, a persistente crise no setor manufatureiro continua a pressionar o crescimento do bloco. Além disso, os desafios enfrentados pela Alemanha, maior economia da região, com eleições antecipadas e debates sobre a flexibilização do limite de endividamento, potencializam as dificuldades para a recuperação econômica do bloco.
Ainda que a inflação se encontre acima da meta, o Banco Central Europeu resolveu novamente cortar os juros, para 2,5% ao ano, na reunião ocorrida no início de março. O movimento se trata da sexta redução desde junho de 2024 e veio conforme a previsão do mercado, que espera pelo menos mais dois cortes até o fim do ano. Contudo, a autoridade monetária, que espera estimular a recuperação econômica em 2025, não antecipou novos cortes em meio a um cenário de incertezas derivadas das tensões comerciais com os Estados Unidos.
A atividade econômica da China encerrou o mês de fevereiro com crescimento nos setores industrial e de serviços, enquanto setor imobiliário permanece em crise, mesmo com injeções bilionárias de recursos efetuadas pelo governo, indicando uma dificuldade de crescimento mais forte da economia. A deflação maior do que a esperada, com uma taxa anualizada de -0,7%, corrobora com a dificuldade de aceleração da economia chinesa.
Em relação à política monetária, o banco central chinês manteve as taxas de juros inalteradas em fevereiro, argumentando que ajustaria sua política monetária no momento apropriado para apoiar a economia. Concomitante a isso, ao longo do mês, a China endureceu seu discurso a respeito da escalada da guerra comercial, implementando tarifas sobre produtos agrícolas e energéticos dos Estados Unidos.
CONCLUSÃO
Fevereiro foi um mês desafiador para os mercados financeiros, com desempenho modesto na renda fixa e perdas na renda variável. Pela renda fixa, o CDI rentabilizou 0,99% no período. Na renda variável, o Ibovespa caiu 2,64%, acompanhando a fraqueza dos mercados globais. O S&P 500 recuou 1,42%, impactado pelas incertezas sobre a política monetária dos EUA e as novas tarifas comerciais. O Global BDRX, por sua vez, caiu 2,80%, influenciado principalmente pelo maior peso das empresas de tecnologia, que se desvalorizaram no período. O cenário segue volátil, com os investidores atentos aos desdobramentos econômicos globais e às perspectivas para os juros no Brasil e no exterior.

Fonte: Comdinheiro.
Por fim, a curva de juros apresentou uma abertura significativa em fevereiro, especialmente em vértices intermediários e longos, refletindo a reavaliação das expectativas do mercado quanto à trajetória da política monetária. Enquanto as taxas de curto prazo seguiram mais ancoradas pela sinalização cautelosa do Banco Central, os vértices mais longos registraram alta, impulsionados por incertezas fiscais e pressões inflacionárias. O movimento foi influenciado pelo avanço do IPCA-15, que subiu 1,23% no mês, acima das projeções do mercado, e pelo receio de que a inflação persistente limite o espaço para futuros cortes na taxa Selic. Além disso, a deterioração da percepção fiscal, com incertezas sobre a trajetória da dívida pública, elevou os prêmios de risco nos vencimentos mais longos da curva de juros. Apesar de uma ligeira queda nas taxas dos Treasuries dos EUA, o cenário externo permaneceu marcado por volatilidade e aumento da aversão ao risco por parte dos investidores.

Fonte: Focus (10/03/2025)
ELABORAÇÃO
Bruna Araújo
Wallyson Diógenes
REVISÃO
Felipe Mafuz
Matheus Crisóstomo
EDIÇÃO
Tamyres Caminha
Camila Matias
DISCLAMER
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