Por Gregório Matias, sócio da Numo.
É muito comum em conversas com clientes, amigos ou com pessoas que sabem que eu trabalho como consultor de investimentos me perguntarem “e aí, qual é o melhor investimento hoje em dia?”. Apesar de ser uma pergunta simples de se fazer, a resposta é mais complexa do que a maioria das pessoas pensa.
Geralmente, o que a parte questionadora deseja saber é qual é aquele ativo que está com melhor performance e, como meu trabalho é “analisar as rentabilidades dos investimentos”, bastaria que eu lhe respondesse com o ativo com maior retorno. Bem, meus amigos, infelizmente a resposta não é tão simples, pois nem sempre o ativo com maior rentabilidade é o melhor e, ainda que fosse, poderia não o ser para você.
A primeira questão para deixar bem clara é que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Essa nota, que está estampada em basicamente todas as lâminas de fundos e relatórios de análise, é ignorada por muitos investidores, assessores de investimentos, gerentes de banco e etc. O que ela diz é que o que foi bom no passado, pode não ser bom daqui pra frente.
Imagine que você, em janeiro de 2020, decidiu investir em um fundo de renda fixa se baseando pelos retornos de 2019, possivelmente você iria aplicar em um fundo indexado ao índice IMA-B5+, que é formado por títulos públicos de longo prazo que pagam um juro fixo (cupom) mais a inflação (IPCA) e que, no ano passado, obteve um retorno de mais de 30%. Caso você tivesse realizado a aplicação no dia 02 de janeiro de 2020, você estaria amargando um prejuízo de pouco mais de 7% até hoje (23/06/2020)! O mesmo se repete com fundos de ações e alguns multimercados. A bolsa, por exemplo, que subiu 32% em 2019 acumula retorno negativo de 17% até hoje.
Isso ocorre por que cada investimento possui uma particularidade específica e está relacionado à uma variável que traduz a sua estratégia. No exemplo acima, a performance dos investimentos ligados ao IMA-B5+ é explicada pela queda nas taxas de juros ao longo de 2019, que beneficiou esse tipo de ativo. Em 2020, a pandemia e o stress político e fiscal fizeram com que o oposto ocorresse, os juros subiram e o IMA-B5+ caiu.
Saber qual é a particularidade de cada investimento e como ele se comporta nos diferentes cenários é o primeiro passo para quem deseja alocar melhor os seus recursos. O segundo passo, e talvez o mais complicado do processo, é analisar o cenário futuro e projetar o comportamento de cada variável: bolsa sobe ou cai? E o dólar? Como estarão os juros daqui há um ano, cinco, dez…? Traçando o cenário para essas variáveis você saberá quais serão as melhores classes de produto a destinar recursos. Após isso, se você for escolher fundos de investimentos, deve analisar a performance de cada gestora e fundo para elencar os melhores dentro de cada estratégia.
Com isso o processo termina? Não! Sabendo agora quais classes de ativo deverão ser os melhores no cenário traçado por você e quais são os melhores gestores e fundos dentro de cada estratégia, resta-lhe saber o mais importante: os investimentos que se encaixam no seu perfil de investidor.
Esta segunda questão, a do alinhamento entre os investimentos e o perfil de quem investe, nunca pode ser minimizada. Você pode seguir os passos acima, investir nos ativos selecionados, mas o descasamento dos seus investimentos com o seu perfil de investidor pode lhe custar caro! Por isso, é imperioso que você analise o seu perfil baseado, mas não se limitando, na sua tolerância à volatilidade (risco), necessidade de liquidez, capacidade de reinvestimento, intermitência do seu fluxo de caixa, etc. Do contrário, você pode ter que incorrer em prejuízo justamente por ter que resgatar um valor por necessidade de liquidez ou, simplesmente, por “perder o sono” por conta da volatilidade.
Desta forma, para, como se diz no popular, “o rabo não abanar o cachorro”, o primeiro filtro que todo investidor deve fazer é da seleção dos fundos baseada no seu perfil. Após isso, somente depois de ter ciência de quais produtos de investimentos se adequam à sua realidade de vida, ele procederá com a escolha dos melhores ativos de acordo com o cenário traçado. Esse será o melhor investimento.
Bolsa, títulos longos e fundos atrelados a esses ativos, por exemplo, nunca serão o melhor investimento para alguém que é extremamente intolerante à variação de preços ou que não tenha horizonte longo de investimento. Da mesma forma, títulos e fundos indexados a CDI/Selic nunca serão o ideal para aqueles que possuem maturidade com o risco e horizonte de tempo, essa classe ficará para os recursos emergenciais ou de possibilidade de utilização no curto prazo.
É importante ressaltar que em caso de ativos estruturados, tais como: fundos imobiliários, fundos de crédito privado, FIDCs, FIPs, COEs e etc., merecem uma reflexão específica para discutirmos sobre os principais pontos de análise e cuidados extras que o investidor deve atentar antes de investir nesses produtos e que não foram tratados neste momento.
Por fim, concluímos que o melhor investimento é aquele que se adequa ao seu perfil e à sua realidade de vida e que deverá performar melhor com o cenário futuro traçado, levando sempre em consideração, no caso de fundos de investimentos, a avaliação qualitativa dos gestores. Investir, como toda decisão importante na vida, exige estudo e reflexão. Faça isso para tomar decisões mais seguras.