Super Quarta – 07.05.25

A chamada “Super Quarta” marca o dia em que coincide de ocorrer decisão sobre a taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Essas deliberações são acompanhadas com atenção pelos mercados financeiros, uma vez que influenciam diretamente as expectativas econômicas, os fluxos internacionais de capital e as estratégias globais de investimento. Mais uma vez, os Bancos Centrais de ambos países adotaram posturas distintas em relação à condução de suas políticas monetárias.

Nos Estados Unidos, o Fed manteve a taxa de juros no intervalo de 4,25% a 4,50%, marcando a terceira manutenção consecutiva. A decisão, que foi unânime, era amplamente esperada pelo mercado, conforme indicava a ferramenta FedWatch da CME Group. Em comunicado, o Banco Central americano reiterou que as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas e que a atividade econômica do país segue se expandindo em um ritmo consistente. Contudo, avaliou que os riscos de maior desemprego e inflação se elevaram desde a última reunião, citando as incertezas acarretadas pela atual política econômica do governo dos EUA. Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que os impactos das tarifas ainda não se materializaram nos dados e que são difíceis de mensurar. “Há uma decisão clara de esperar, ver e observar. Quando as coisas se desenvolverem, podemos agir rápido se for apropriado”, destacou Powell. Ele também reforçou que “os pedidos do governo não afetam em nada o nosso trabalho e nossas decisões”, reiterando a independência da autoridade monetária.

Já no Brasil, o Copom optou por elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 14,75% ao ano, a maior taxa desde julho de 2006. A elevação já havia sido antecipada na reunião anterior e ocorreu de forma unanime. A decisão foi acompanhada de um comunicado de tom firme, em que o Banco Central apontou que tanto a questão tarifária norte-americana quanto a questão fiscal doméstica têm impactado os preços dos ativos e contribuído para o aumento das expectativas de inflação. No cenário interno, embora haja sinais de moderação no ritmo da atividade econômica, o núcleo da inflação permanece elevado de maneira persistente, o que reforça a necessidade de uma política monetária ainda mais restritiva. O Copom revisou as expectativas para a inflação medida pelo IPCA para 2025 para 4,8% e para 3,6% em 2026, valor que se situa dentro da banda de tolerância da meta.

Nesse contexto, o comunicado destaca que, “para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.

A elevação da Selic reacendeu o debate sobre os efeitos prolongados dos juros elevados na atividade e nos investimentos, mas ao mesmo tempo oferece uma janela para investimentos mais conservadores, dado que os juros reais ultrapassam 8,5% ao ano. A curva de juros futuros reforça essa expectativa: os contratos curtos reagiram com leve alta, enquanto os longos cederam, indicando que o mercado começa a precificar uma possível estabilidade no curto prazo e queda a partir de 2026.

No mercado de renda variável, a decisão do Copom foi bem recebida. O Ibovespa abriu o pregão desta nesta quinta-feira (08) em alta, atingindo máxima histórica ao alcançar o pico de 137.634,57 pontos, refletindo a percepção de que a autoridade monetária permanece comprometida com o controle inflacionário, bem como devido à sinalização de aproximação de um possível fim do ciclo de aperto monetário. 

As diferentes decisões nos dois países evidenciam os distintos desafios enfrentados pelas economias dos Estados Unidos e do Brasil. Enquanto o Banco Central norte-americano adota uma postura cautelosa, monitorando de perto a atividade econômica e o comportamento da inflação, o Brasil lida com a desancoragem das expectativas inflacionárias e um cenário doméstico incerto — especialmente no campo fiscal — o que exige uma política monetária mais rigorosa.

A taxa Selic em patamar historicamente elevado tende a penalizar o crescimento econômico no curto prazo, mas reforça o compromisso da autoridade monetária com a convergência da inflação à meta. No que se refere a investimentos, o momento atual direciona para ativos mais conservadores, especialmente os investimentos atrelados a juros e de proteção a inflação.

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