Por Jonathas Oliveira
Analista CNPI da Numo
Ao iniciar os estudos sobre teoria monetária, um dos primeiros conceitos que aprendemos são as funções básicas da moeda, quais são: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Para quem não está familiarizado com essas definições, vamos explicar o que cada uma significa:
Meio de troca: um objeto funciona como um meio de troca quando é amplamente aceito como pagamento por outros bens e serviços;
Reserva de valor: refere-se à capacidade que certos bens possuem de preservar poder de compra com o passar do tempo. Em termos práticos, isso significa que o bem não pode passar muita volatilidade;
Unidade de conta: bem utilizado como base para medir o preço dos demais bens. Ex: podemos medir o valor de um carro utilizando 60 mil unidades monetárias do Real.
Após a crise do subprime, em 2008, ocorreu uma desconfiança, e até uma certa revolta, de algumas pessoas contra o atual sistema financeiro mundial. Esse movimento levou alguns indivíduos a depositar parte das suas reservas financeiras em ativos conhecidos como criptomoedas, que, até então, estavam fora de qualquer sistema financeiro e, por consequência, fora do controle estatal.
A grande ideia e motivo por trás do valor que as pessoas atribuíram às criptomoedas nos últimos anos foi a criação de sistema financeiro descentralizado e que não pudesse ser utilizado por governos como forma de exercer poder político. Dessa forma, atuariam de fato como uma moeda substituta ao dólar, euro, libra, iene, dentre outras.
Voltemos aos conceitos sobre a função básica da moeda e listar se as criptos vêm cumprindo o seu papel até o momento.
De fato, criptomoedas são aceitas como meio de troca em alguns estabelecimentos, todavia, ainda pecam em funcionarem como reserva de valor e unidade de conta devido à volatilidade, que supera ativos de renda variável e se comportam como verdadeiros ativos de risco.
Vamos observar o comportamento da principal criptomoeda (bitcoin) contra o principal índice ações nos EUA (S&P 500):

É possível visualizar que a tendência de ambos foi bastante semelhante nos últimos anos, com alguns eventos pontuais fazendo com que eles se descolassem em determinados períodos, como a guerra comercial entre EUA e China em 2018 (impacto em ações) e os ataques do governo chinês aos mineradores de criptomoedas.
Porém, a correlação entre as criptomoedas e o demais ativos de risco se tornou mais clara após o início do aperto monetário por parte do banco central americano, visto que o bitcoin e o S&P 500 acumulam queda de 56,20% e 19,82% em 2022, respectivamente.

Quais as lições que o investidor pode tirar disso tudo? A primeira é que ele esteja ciente que toda e qualquer operação que envolve criptomoedas incorre em um risco muito superior ao encontrado em ativos de risco comuns. Então, se alguém se apresentar vendendo operações com criptoativos e afirmar que não há risco no negócio, desconfie! A segunda é que o valor das criptomoedas está associado intrinsicamente à sua capacidade de cumprir minimante as três funções básicas da moeda apresentadas anteriormente, logo o investidor de longo prazo deve se manter distante caso não acredite na tese. A última é que sempre busque controlar o risco da sua carteira como um todo para evitar a “queima” do seu patrimônio, tal medida envolve a diversificação do portfólio entre as mais diversas classes de ativos, sejam elas ações, títulos públicos, crédito privado ou criptomoedas, e a fundamentação e ciência de cada decisão de investimento tomada.